12
fev
2015

Aceitando a Realidade (Ou: Você não é um floco de neve especial)

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"Mamãe sempre disse que eu ia ser alguém importante"

Boa tarde, amigo.
Eu sei, eu sei.
Você é especial.
Todos nós somos únicos.
Você tem uma idéia importante, genial, ou vai ter uma, que vai mudar o mundo e te deixar rico e famoso.
E é claro, até lá, tá de boa você ficar jogado no sofá ouvindo música indie o dia inteiro.
Você está "brainstormeando".

Então, cara, eu tava pensando em fazer uma nova rede social, completamente inovadora.
É, essa vai ter o botão "descurtir". Vou ficar mó rico.

Tá tudo bem cara, mas deixa eu te informar:
Isso não vai acontecer. Não desse jeito.
A gente não tá te julgando, cara.
Você sofre de uma coisa muito comum nos tempos de hoje:
A Síndrome do Floquinho de Neve.
Mas nós temos a cura infalível pra isso:
Choque de realidade.

Vamos lá?

Não é você. Absolutamente. Nem um pouquinho.

De acordo com o UrbanDictionary, a Síndrome do Floquinho de Neve (Em inglês, Unique Snowflake Syndrome), é o verdadeiro mal do século, onde o indivíduo afetado se acha único e especial, e demanda do resto do mundo tratamento a altura de seu status imaginário.

Geralmente, os pacientes com SFN se acham mais importantes ou melhores que o resto da sociedade, e essa doença tem, na nossa singela opinião, dois estágios:

#1 - O Mal da Geração Y

Crianças da geração Y são filhos, geralmente, de Baby Boomers, aquela geração que nasceu entre os anos 50 e 70, ou foram influenciados por parentes/conhecidos Baby Boomers, ou outros Y-Gens. Uma das características dos Baby Boomers era o fato que as suas expectativas sócio-ecônomicas eram focadas em trabalhar durante muitos anos, para aproveitarem um final de carreira e aposentadoria tranquilos, com seus gramados verdes.
O que aconteceu com os Baby Boomers foi uma coisa única, que foi o fato que eles viveram na época da expansão comercial do petróleo e tecnologia, então, a maioria deles acabou tendo sucesso relativamente cedo nas suas carreiras, em contraste com seus pais e avós, que tiveram que seguir a escala relativamente normal de trabalho, seguido de mais trabalho, e depois mais trabalho ainda, pra depois poderem viver tranquilos.
Já a Geração Y, tendo esse exemplo em casa, quer não só um gramado verde, mas também quer flores no gramado.
E eles querem agora.
E por agora, eu quero dizer, sabe, agorinha mesmo.
A Geração Y foi ensinada pelos pais desde pequenos que poderiam ser o que quisessem, que o mundo era cheio de oportunidades, e os pais deles davam como exemplo as carreiras deles, que começaram muito bem.

Só que a condição econômica mundial não é a mesma daquela época.
E a Geração Y ainda não entendeu isso.
Eles creêm que a vida, assim como um sitcom americano, envolve "sofrer" por muitos anos na escola e faculdade, e em seguida, emplacar uma cargo de seis dígitos por ano numa empresa grande e prestigiosa, tendo tempo pra continuar saindo, farreando e se divertindo como faziam durante os anos de "sofrência".
Mas eles chegam no final dos seus cursos, com seus canudos prestigiosos, e aí enfrentam um cargo de 20 horas semanais por 2 mil reais por mês. E acham ruim.

Por que não dá pra plantar flores no jardim com 24 barões por ano, né?

#2 - O jovem genial não-compreendido

A versão piorada do mal do floquinho de neve, o JGNC é o jovem que é filho da Geração Y, ou ainda, de Baby Boomers em idade avançada (e carreiras MUITO bem definidas), que não se contenta com um salário anual de seis dígitos e tempo pra farrear:
Ele quer isso. Ele quer isso antes dos 20, de preferência.
E sem estudar.
E sem trabalhar.
Por que ele é único e ele tem idéias IN-CRÍ-VEIS.
O JGNC foi criado cercado por exemplos de early success, e seus pais o estimularam a seguir isso.
Mark Zuckerberg, Bill Gates, Steve Jobs, aquele adolescente brasileiro que fez 1 milhão de reais investindo na bolsa de valores antes dos 18 anos de idade, Jordan Belfort (Mas só a época boa).
O JGNC é fruto de pais superzelosos, irrigado e nutrido pela inserção comercial da internet nos anos 90/00, a popularização da economia de risco como fonte de renda e pela época do fácil acesso ao estudo superior.
Só que o JGNC não compreende que Steve Jobs não acordou um dia de ressaca e falou "Vou criar uma empresa de computadores. Pimba. É isso".
O JGNC vê o sucesso, mas não vê o trabalho que fez esse sucesso aparecer. Parte disso é culpa da mídia, que só fala sobre as vitórias e não sobre as derrotas.
Mas parte disso é culpa dos próprios JGNC, vítimas de uma coisa chamada wistful thinking, uma expressão da lingua inglesa que envolve otimismo exagerado e, é claro, a síndrome do floquinho de neve.
Ah, ele perdeu 30 milhões de dólares fazendo isso? Mas ele não era eu, né.

Isso nos leva ao nosso tópico principal aqui:

Como eu me livro da SFN?


Primeiro, você precisa entender que o mundo não é como nós queriamos que fosse.
Num mundo ideal, você poderia dormir até a hora que quisesse, fazer o que quisesse, e ganhar o que quisesse.
Agora, olha pra fora e me diz: É assim?
Não, né?

Ótimo. Esse é o primeiro passo do CHOQUE DE REALIDADE.

Depois, vamos falar sobre a palavra "único":
De acordo com o Dicionário Informal, único é:
Que é um só. De cuja espécie não existe outro. Exclusivo. Excepcional. [...]

Agora, espera aí:
Se único significa algo excepcional, algo ACIMA DA MÉDIA, como pode todo mundo ser único?

Ah, mas todo mundo é único em alguma coisa da vida, algo que ele faz que ninguém mais faz.

Se o padrão é que todo mundo saiba fazer uma coisa melhor que os outros, isso não significa que é normal você poder fazer algo melhor que os outros?
Ta-dá. Lá se vai o único. De novo.
Agora você entende?
Você não é único. Você é igual todo mundo mais.
Você é um humano, composto de carne e ossos, como todo mundo.

M-mas, se todo mundo é igual, por que nem todo mundo tem carreiras estelares como o Mark Zuckerberg?


A questão não é o quão únicos Mark Zuckerberg ou Bill Gates ou Steve Jobs.
Suas carreiras estelares vieram de uma coisa:
Análise do mundo.
Eles analisaram a sociedade onde estavam colocados, estudaram o que ela precisava, ou fizeram ela achar que precisava do produto deles.
Basicamente, eles aproveitaram ou criaram as oportunidades que levaram eles a essas carreiras estelares.
Daqui de fora, parece que Steve Jobs foi aquele cara que foi contra a sociedade e passou a vida brincando com brinquedos tecnológicos ao invés de fazer algo "decente" como seu pai diz.
Mas não foi bem assim, e você sabe disso, lá no fundo.

Você acha que nos anos 60, quando a NASA chegou a lua, eles só precisaram pensar bastante na lua e querer saber se ela é feita ou não de queijo?
Claro, isso é importante. A vontade, o sonho, é o carvão que leva a locomotiva da humanidade adiante.
Mas não dá pra jogar carvão nos trilhos e esperar que o trem ande a partir dali.
Primeiro, você precisa de um motor.
Os caras que foram pra lua precisaram de mais que carvão. Eles precisaram de gente que estudou muito sobre a Lua, a Terra e todo esse espaço preto que tem no meio do caminho.
Além disso, eles precisaram de uma oportunidade.
Ou você acha que se alguém tivesse falado "vamos pra lua, galera!" nos anos 20 alguém teria dado bola pra eles?

Então, você quer dizer que eu não vou ficar rico com a minha rede social com o botão "descurtir"?


Eu não falei isso.
Mas eu falei que você precisa de muito mais esforço pra chegar lá do que ser especial.
Pense na sua vida como se você fosse um carinha da NASA nos anos 60 querendo chegar na Lua, e não como se você fosse um floco de neve especial que merecia estar lá assim que você pensa nisso.

Pense nisso.
Olhe pro mundo ao seu redor.
Vale a pena ser um floquinho de neve único e especial?

Neve é só água, amigo.

Boa noite.


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