05
nov
2015
Memento Mori
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Ontem foi Dia dos Finados, e antes, Halloween.
Com todo esse clima mórbido e depressivo de fantasmas e monstros e pessoas que morreram, eu gostaria de falar sobre um estilo artístico chamado memento mori e os efeitos que essa arte buscam causar em quem a observa.
Além de ser uma tatuagem em meninas góticas em idade juvenil, memento mori, em latim, significa algo próximo de "Lembre-se que você morrerá".
Reza a lenda que a tradição começou com os generais romanos: Diz-se que um serviçal era escolhido para ir atrás de um general vitorioso durante sua procissão de comemoração, para que ficasse sussurando em seu ouvido "memento mori", de forma que o general não esquecesse que, mesmo em seu momento de glória, ele ainda era humano, e que iria morrer como todos outros.
É verdade? Não sei.
Mas deixa eu te contar uma coisa:
Memento mori.
Cada dia da sua vida, a cada minuto que você perde, é um minuto que você perde de verdade.
Você não está ficando mais jovem.
Você.
Vai.
Morrer.
Capisce?
Nossa sociedade tem medo da morte, somos positivistas e gostamos de buscar a juventude eterna, e a idéia de morrer nos assusta e nós realmente adoramos a mentira que um creme vai fazer com que a gente pareça mais novo.
Todos nós morreremos um dia, tanto os grandes, quanto os pequenos.
Olhe para quem você mais ama: Um dia, essa pessoa também estará morta.
Olhe no espelho: O que você vê é um homem destinado a morrer, e não somos todos iguais perante os dedos da morte?
Em Hamlet, de Shakespeare, ao ver o crânio do antigo bobo da corte, Yorick, o personagem principal acaba tendo uma reflexão sobre a mortalidade humana, após notar o bruto contraste entre Yorick em vida e em morte: Independente de seu calor e de seu humor, a morte foi igualmente cruel com o bobo do rei quanto foi ao advogado cheio de manias e ao grandioso imperador Alexandre.
Hoje em dia a cena seria considerada um tanto quanto mórbida e de mal-gosto: Nós temos um medo irresponsável da morte, que, aliás, é bem mais distante de nós do que era na época de Shakespeare.
Mas antigamente a morte era um pouco mais... Animadora, para as pessoas:
Não, eles não faziam uma linha e dançavam a conga até as lanças dos inimigos, ou resolviam nadar pelados na noite do Natal na Suécia, mas a idéia de que a morte estava vindo e que não tinha como escapar dela fazia com que eles se inspirassem para FAZER ALGUMA COISA da vida deles.
Essa é a sua vida.
Eu ficava esperando um sinal de que a minha vida de verdade tinha começado.
Achei que viria quando eu fizesse 18.
Não veio.
Achei que viria com a faculdade.
Não.
Primeiro emprego?
Nadinha.
Esses dias eu encontrei uma colega minha do ensino fundamental, e ela já tinha um filho de 3 anos.
Outra, um de 5.
Uma amiga minha do ensino médio tem um filho que vai fazer 2 anos.
Foi aí que eu percebi que eu tava ficando velho e que o tempo não ia voltar.
Daqui a alguns poucos (menos que 5!) anos, "30 anos atrás" não vão ser os anos 70, e sim os 90.
Meus conhecidos se casando e tendo filhos não são mais "adolescentes irresponsáveis" e "casos de gravidez juvenil", e sim, adultos tomando decisões conscientes.
A cada dia eu tenho menos chance de fazer as coisas que eu queria fazer, e cada dia que eu perco, é um dia a menos que eu tenho para fazer seja lá o que for.
Desde que eu percebi isso, eu tenho pensado de maneira séria sobre a minha morte e sobre o que diabos eu estou fazendo com a minha vida.
Não existe um momento como hoje, e não deixe pra amanhã o que você pode (e deve) fazer hoje.
Humanos são extremamente ruins em prever a quantia de recursos que terão no futuro, e a maioria das pessoas, quando deparadas com essa pergunta, respondem que terão mais ou menos a mesma condição financeira atual, porém, mais tempo livre.
Quem nunca aceitou um projeto dificil e deixou pra depois pois teria mais tempo livre?
Quem nunca resolveu que ia começar uma dieta "depois do feriado", ou que ia voltar pra academia "no mês que vem"?
Somos uma sociedade de promessas feitas e não cumpridas.
Vivemos nos preparando para fazer algo, e nunca fazendo: Morremos procurando dietas eficientes, exercícios milagrosos, remédios sobrenaturais, empregos ideais, pessoas perfeitas.
Deixamos para fazer as coisas depois, para começar nossos sonhos depois, quando tivermos mais tempo, mais dinheiro, mais contatos.
Com todo esse clima mórbido e depressivo de fantasmas e monstros e pessoas que morreram, eu gostaria de falar sobre um estilo artístico chamado memento mori e os efeitos que essa arte buscam causar em quem a observa.
Além de ser uma tatuagem em meninas góticas em idade juvenil, memento mori, em latim, significa algo próximo de "Lembre-se que você morrerá".
Reza a lenda que a tradição começou com os generais romanos: Diz-se que um serviçal era escolhido para ir atrás de um general vitorioso durante sua procissão de comemoração, para que ficasse sussurando em seu ouvido "memento mori", de forma que o general não esquecesse que, mesmo em seu momento de glória, ele ainda era humano, e que iria morrer como todos outros.
É verdade? Não sei.
Mas deixa eu te contar uma coisa:
Memento mori.
Cada dia da sua vida, a cada minuto que você perde, é um minuto que você perde de verdade.
Você não está ficando mais jovem.
Você.
Vai.
Morrer.
Capisce?
Todos nós vamos morrer um dia.
Não é um horror, não é um absurdo: Se você tá lendo isso agora, um dia você vai morrer.Nossa sociedade tem medo da morte, somos positivistas e gostamos de buscar a juventude eterna, e a idéia de morrer nos assusta e nós realmente adoramos a mentira que um creme vai fazer com que a gente pareça mais novo.
Todos nós morreremos um dia, tanto os grandes, quanto os pequenos.
Olhe para quem você mais ama: Um dia, essa pessoa também estará morta.
Olhe no espelho: O que você vê é um homem destinado a morrer, e não somos todos iguais perante os dedos da morte?
Em Hamlet, de Shakespeare, ao ver o crânio do antigo bobo da corte, Yorick, o personagem principal acaba tendo uma reflexão sobre a mortalidade humana, após notar o bruto contraste entre Yorick em vida e em morte: Independente de seu calor e de seu humor, a morte foi igualmente cruel com o bobo do rei quanto foi ao advogado cheio de manias e ao grandioso imperador Alexandre.
Ah, pobre Yorick! Eu o conhecia bem, Horácio -- Um sujeito engraçado, e de grande imaginação. Me carregou em suas costas diversas vezes, e agora -- Que terrível -- isto é ele. Faz meu estômago revirar! [...] Deveis ir ao aposento de minha senhora, Yorick, e contar-lhe que não importa quanta maquiagem vista em sua face, um dia ela estará como você. Isto a fará rir, de certeza!
Hamlet, ao ver o crânio de Yorick, o bobo da corte.
Hoje em dia a cena seria considerada um tanto quanto mórbida e de mal-gosto: Nós temos um medo irresponsável da morte, que, aliás, é bem mais distante de nós do que era na época de Shakespeare.
Mas antigamente a morte era um pouco mais... Animadora, para as pessoas:
Não, eles não faziam uma linha e dançavam a conga até as lanças dos inimigos, ou resolviam nadar pelados na noite do Natal na Suécia, mas a idéia de que a morte estava vindo e que não tinha como escapar dela fazia com que eles se inspirassem para FAZER ALGUMA COISA da vida deles.
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The Skeleton of Cadavra |
Essa é a sua vida.
Eu ficava esperando um sinal de que a minha vida de verdade tinha começado.
Achei que viria quando eu fizesse 18.
Não veio.
Achei que viria com a faculdade.
Não.
Primeiro emprego?
Nadinha.
Esses dias eu encontrei uma colega minha do ensino fundamental, e ela já tinha um filho de 3 anos.
Outra, um de 5.
Uma amiga minha do ensino médio tem um filho que vai fazer 2 anos.
Foi aí que eu percebi que eu tava ficando velho e que o tempo não ia voltar.
Daqui a alguns poucos (menos que 5!) anos, "30 anos atrás" não vão ser os anos 70, e sim os 90.
Meus conhecidos se casando e tendo filhos não são mais "adolescentes irresponsáveis" e "casos de gravidez juvenil", e sim, adultos tomando decisões conscientes.
A cada dia eu tenho menos chance de fazer as coisas que eu queria fazer, e cada dia que eu perco, é um dia a menos que eu tenho para fazer seja lá o que for.
Desde que eu percebi isso, eu tenho pensado de maneira séria sobre a minha morte e sobre o que diabos eu estou fazendo com a minha vida.
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Guy Marchant: Death taking the Cardinal and the King from the Danse Macabre |
Humanos são extremamente ruins em prever a quantia de recursos que terão no futuro, e a maioria das pessoas, quando deparadas com essa pergunta, respondem que terão mais ou menos a mesma condição financeira atual, porém, mais tempo livre.
Quem nunca aceitou um projeto dificil e deixou pra depois pois teria mais tempo livre?
Quem nunca resolveu que ia começar uma dieta "depois do feriado", ou que ia voltar pra academia "no mês que vem"?
Somos uma sociedade de promessas feitas e não cumpridas.
Vivemos nos preparando para fazer algo, e nunca fazendo: Morremos procurando dietas eficientes, exercícios milagrosos, remédios sobrenaturais, empregos ideais, pessoas perfeitas.
Deixamos para fazer as coisas depois, para começar nossos sonhos depois, quando tivermos mais tempo, mais dinheiro, mais contatos.
O tolo, com todos os seus defeitos, tem entre eles também o de que ele está sempre se preparando para a vida.
Seneca
Ao viver em busca de momentos únicos, esquecemos que cada momento é único.
Respire.
Expire.
Você nunca mais vai passar por isso.
Esse momento da sua vida acabou de passar.
Você esta a uma respiração mais próximo de morrer.
Pare de se preparar, pare de arranjar desculpas, e faça.
O que você vai fazer antes de morrer?
Se você soubesse que ia morrer ano que vem, o que você faria?
Não espere pra descobrir quando você vai morrer, faça agora. Afinal de contas, a morte está vindo, e ela não para pra ninguém.
Memento mori.